Wilson Rocha: Um pediatra que fez escola... |
Falar de papai é tarefa difícil ...... |
O que posso dizer de sua vida profissional? Fui um expectador externo, que escolheu profissão bem diversa, mas sempre percebi com clareza sua paixão e dedicação à medicina, às crianças, aos alunos. Sempre teve parcela considerável de clientes não pagantes. A medicina, para ele, era nobre demais para ser medida em cifrões. Sei, por conversas e notícias, que ele foi pioneiro em Minas Gerais em algumas especialidades. Sei que foi chamado de “mão santa” por clientes, e nesses últimos dias ouvi, referindo-se a ele, a palavra “lenda”. Sei também que suas palestras em congressos eram concorridíssimas, na certa por unir informações técnicas de qualidade ao inseparável bom humor. Disseram-me que, frequentemente, em meio a slides médicos, surgia uma foto dele no meio da neve, e ele se apressava em explicar tratar-se do inverno em Bomfim do Paraopeba. Sempre amou suas origens, sua terra. Sempre amou também os livros. Eu não entendia como conseguia ler tantos livros e artigos de medicina, como sempre o vi fazer até bem recentemente, e ainda encontrar tempo para a literatura. Tinha gosto eclético. Gostava de prosa e poesia, de escritores clássicos e modernos. Grande apreciador dos textos de Guimarães Rosa, provavelmente por retratar os Gerais com jeito tão mineiro. Quantas vezes o vi citar: “a colheita é comum, mas o capinar é sozinho”, “viver é muito perigoso”, dentre outros. Outra paixão era o Galo. Atleticano de primeira hora, freqüentador dos jogos desde o tempo do campo da Olegário Maciel, nos ensinava a gritar Galo antes mesmo de falar papai. Nos mostrou como o sentimento, o prazer, o orgulho de ser atleticano é especial, inigualável e por isso mesmo incompreensível para outras torcidas. Na última sexta ouvi, com orgulho, que ele foi responsável por boa parte da atleticanidade de uma geração em Belo Horizonte. Não posso finalizar sem falar do Wilson Rocha homem, marido, pai. Olhem, parece até coisa que filho fala e aumenta, mas não é: o amor vivido e nutrido entre o Wilson e a Natália foi coisa tão intensa, tão abnegada, tão incondicional, tão bonita, que eu mesmo por um bom tempo não acreditava: achava que tinha alguma coisa errada. Mas o amor deles era tudo isso sim e muito mais. Até o fim. Não dá nem pra explicar. Quem conviveu com eles sabe. Como pai, posso dizer que foi reflexo do que era consigo mesmo: dedicado, severo, atencioso, alegre e com rígidos valores morais que ele incutiu em nós e que até hoje fazem com que eu me sinta certo, mas diferente da maior parte do mundo. O modelo, o exemplo que ele foi para nós, seus filhos, talvez seja sua maior herança. Sem escrúpulos de estar citando uma fala romântica de um filme famoso, ele me fez e me faz querer ser um homem melhor.
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